Todo dia 1° de maio o brasileiro tem como tradição comemorar o Dia do Trabalhador e relembrar um dia trágico para história do esporte mundial: a morte de Ayrton Senna. Em 1994, um dos maiores pilotos da história do automobilismo nos deixou após passar reto na curva Tamburello, no circuito de Ímola, na Itália, e bater fatalmente contra o muro. Para quem viveu aquela época, o dia de sua morte continua vivo na memória.

Senna alegrava as manhãs (ou tarde, dependendo do fuso da corrida) de domingo. O bordão “Ayrton Senna do Brasil” foi imortalizado por Galvão Bueno, assim como a música Tema da Vitória que tocava a cada conquista. Jovens, adultos e idosos; homens e mulheres; ricos e pobres, suas corridas eram acompanhadas por todos. As vitórias trouxeram esperança em um momento difícil tanto politica quanto financeiramente  para o Brasil.

Com apenas cinco anos, eu era apenas um menino que sonhava poder repetir meu ídolo. Nem passava pela minha cabeça ser jornalista. Só queria poder pilotar um carro de Fórmula 1 quando crescesse. Eu sabia que aquilo era praticamente impossível para uma criança da minha realidade. O automobilismo é e sempre foi um esporte para quem tem dinheiro. Só que eu tinha a liberdade de sonhar e era isso que fazia. Tinha macacão de piloto, carro de brinquedo e até um material da shell que ganhei depois que meus pais escreveram para o Senna para falar sobre minha admiração.

Quando o Senna morreu foi um baque muito grande. Pela primeira vez eu tinha contato com a morte de alguém “próximo”. Sim, ele não era meu parente e muito menos tinha proximidade com a família, mas só de poder acompanhar suas corridas aos fins de semana já me fazia sentir como um amigo. Tanto que com o tempo, após o acidente, o automobilismo deixou de ser meu esporte favorito, sendo substituído pelo futebol.

Desde então, nenhum outro piloto brasileiro conseguiu ocupar o lugar de Senna. Alguns de fora, como Michael Schumacher e Lewis Hamilton, talvez tenham suprido um pouco da saudade que sentimos de ver alguém tão vitorioso pilotando, mas nada comparado ao sentimento que Senna nos provocava.

Entrevista com Senna

Hoje, como jornalista formado, queria poder ter tido a oportunidade de entrevistar Senna pelo menos uma vez. Então, para realizar pelo menos esse sonho, decidi fazer uma entrevista póstuma (como tinha feito com Nelson Rodrigues, outro ídolo) com frases famosas ditas pelo piloto ao longo de sua carreira.

Senna inspirou muita gente não só pelas vitórias, mas pela forma como as enxergava e buscava. Ele ensinou que devemos buscar sempre ser os melhores no que fazemos, independentemente da área em que atuamos ou do que nos propomos a fazer. Nas linhas abaixo, Senna fala sobre sua trajetória, dá dicas e mostra o caminho para o país ser um lugar melhor para todos. Confira!

senna_pilota_newsfut

NEWSFUT: Como é ser o maior ídolo do Brasil?
Ayrton Senna: Para ser honesto, não me sinto o maior ídolo brasileiro. Não me sinto uma pessoa tão importante assim para merecer uma festa durante uma noite toda no Brasil.

NF: A que você deve seu sucesso?
Senna: Se cheguei onde cheguei e consegui fazer tudo o que fiz, foi porque tive a oportunidade de crescer bem, num bom ambiente familiar, de viver bem, sem problemas econômicos e de ser orientado no caminho certo nos momentos decisivos de minha vida.

NF: O sucesso profissional leva a pessoa a ter uma vida melhor financeiramente. Qual a sua relação com o dinheiro?
Senna: Dinheiro é um negócio curioso. Quem não tem está louco para ter; quem tem está cheio de problemas por causa dele.

NF: Acha que pode melhorar em alguma coisa?
Senna: Quero melhorar em tudo. Sempre.

NF: Quem são seus ídolos?
Senna: Eu não tenho ídolos. Tenho admiração por trabalho, dedicação e competência.

NF: Como lida com o medo?
Senna: O medo me fascina. Ele faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras – acho que estou entre elas – aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação.

NF: Então não tem medo de sofre acidente, certo?
Senna: Acidentes são inesperados e indesejados, mas fazem parte da vida. No momento em que você se senta num carro de corrida e está competindo para vencer, o segundo ou o terceiro lugar não satisfazem. Ou você se compromete com o objetivo da vitória ou não. Isso que dizer: ou você corre ou não.

NF: Algum acidente te marcou?
Senna: O acidente em Mônaco me levou para perto de Deus. Mudou muito minha mentalidade.

NF: O que você quer dizer quando afirma que o segundo e terceiro lugar não satisfazem?
Senna: Brasileiro só aceita título se for de campeão. E eu sou brasileiro. O importante é ganhar. Tudo e sempre. Essa história de que o importante é competir não passa de pura demagogia. O segundo nada mais é do que o primeiro dos perdedores.

NF: Você acha que é por ter essa mentalidade que muitos te consideram um piloto arrojado?
Senna: Não sei dirigir de outra maneira que não seja arriscada. Quando tiver de ultrapassar, vou ultrapassar mesmo. Cada piloto tem o seu limite. O meu é um pouco acima do dos outros. Vencer sem correr riscos, é triunfar sem glórias!

NF: Qual o sentimento de vencer uma corrida?
Senna: Vocês nunca conseguirão saber como um piloto se sente quando vence uma prova. O capacete oculta sentimentos incompreensíveis.

NF: Qual o papel da equipe nessas horas?
Senna: Eu sou parte de uma equipe. Então, quando venço, não sou eu apenas eu quem venço. De certa forma termino o trabalho de um grupo enorme de pessoas!

NF: Qual foi o maior erro que já cometeu?
Senna: Meu maior erro? Acho que ainda está para acontecer.

NF: Como você definiria uma pessoa forte?
Senna: Forte é quem, depois de tanto perder, reergue-se e segue lutando. Na adversidade, uns desistem, enquanto outros batem recordes.

NF: O que uma pessoa precisa para ser bem sucedida?
Senna: Se você quer ser bem sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si. Sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá. No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.

NF: Qual o conselho daria para as pessoas que estão lendo essa entrevista?
Senna: Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá.

NF: Vivemos um momento complicado no Brasil. Acredita que o país possa mudar?
Senna: Se quisermos mudar nossa nação, é pelas crianças que devemos começar. Devemos respeitar e educar nossas crianças para que o futuro das nações e do planeta seja digno.

13891613599_59271b48f4_o

NF: Obrigado, Senna. Você é uma pessoa incrível, um exemplo para todos nós.
Senna: Se depender de mim, vocês, jornalista, irão esgotar os adjetivos do dicionário.

Uma resposta para “Senna Eterno”.

  1. […] brasileiros, sabemos bem como é perder um ídolo-herói. Em 94, nos despedimos precocemente de Ayrton Senna. Sem dúvida, uma das maiores dores do esporte nacional até hoje. Por isso, nos solidarizamos com […]

Diga para gente o que achou

Tendência